sexta-feira, 30 de dezembro de 2022

O Rio dos Poetas...


«O Poeta Gigante quando se chamava Alberto orgulhava-se do Rio da sua Aldeia, que é de facto único.

Nem me desagrada ver tantas barcas para cá e para lá. Talvez andem todos à procura da poesia que tu tens encontrado de tantos poetas...

Poesia que se encontra facilmente nas margens e no meio do Tejo...»

(Texto da Bela)


(Fotografia de Luís Eme - Ginjal)


terça-feira, 27 de dezembro de 2022

O Rio mais Parecido com um Mar...


«Tu não sabes o que é morar numa terra sem um rio (largo ou estreito).

É por isso que não me importo de ficar aqui sentada, de olhos abertos, de olhos fechados, quase até ao fim do dia.

É como se estivesse a guardar dentro de mim todas estas tonalidades, entre o verde e o azul, deste rio, que é, de todos os que conheço, o mais parecido com um mar...»

(texto da Bela)


(Fotografia de Luís Eme - Ginjal)


quarta-feira, 30 de novembro de 2022

O Tejo Azul do Sul...

«Há o Tejo, que a todos reflectem; tanto Tejo azul em plataforma de riscos a debruar Lisboa, o Tejo que “Recordações da Casa Amarela” (João César Monteiro) já libertara.

Zéfiro, não pertencendo ao grupo das encomendas horárias, retrata com amor todo o Sul (e Lisboa é Sul no seu soprar), mostrando aldeias, desperdícios industriais, a poesia abandonada do Seixal, uma estrada a encher-se com um camião de bandeiras já é arquitectura. Fica-nos uma terrível vontade de captar para sempre nos olhos cheios aquele enamoramento; que sabemos guardado numa cadência histórica.»

 

                                      [Manuel Graça Dias, “Público”, 16 de Setembro de 1994]


segunda-feira, 7 de novembro de 2022

Lisboa, Lisboa, Lisboa...

 


«Nasci em Lisboa, cresci em Lisboa e provavelmente morrerei em Lisboa. Às vezes, quando estou fora, dou por mim a ter saudades da cidade, da sua luz, das suas sombras, do seu Tejo.» 

 

       [Maria Filomena Mónica, “Vida (O Independente)”, 15 Dec 95]


(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


segunda-feira, 10 de outubro de 2022

"O Sol da Primavera Ilumina o Tejo"


«No banco de jardim onde se costuma sentar, o Sol da Primavera ilumina o Tejo em frente, como quadro sobrevivente dos fados e dos poetas que inspirou, do povo que nele se lavou e sobre ele cantou, durante séculos. Amália surge na conversa, pela primeira vez ao longo do dia, assim como as memórias que o rio presenciou desde sempre, algumas boas, outras nem tanto.»

Este texto, talvez demasiado adjectivado, é de Pedro Cativelos, de um pedaço de uma entrevista/perfil feita a Camané e publicada na "Pública", a 20 de Abril de 2008. 

Tem Tejo, tem gente e tem fado...


(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


quinta-feira, 29 de setembro de 2022

(Já não é impossível...)


«Sendo impossível lançar sobre as águas uma ponte, em razão da extrema largura do Tejo, encarregam-se da travessia os vapores do sr. Burnay, que, em poucos minutos, nos depõem na Outra Banda.»


[Alberto Pimentel, in "Fotografias de Lisboa]


(Fotografia de Luís Eme - Tejo)


quarta-feira, 28 de setembro de 2022

(Estar Diante do Tejo...)


«Estava finalmente diante do Tejo.

Não é preciso espraiar por muito tempo o olhar na vastidão majestosa das suas águas para saudar entusiasticamente o primeiro rio de Portugal. Os arvoredos da Outra Banda esbatem-se naquela grande distância como no fundo de um quadro. O céu de Lisboa é de tal modo lúcido, que permite à corrente o azulejar-se com igual beleza.»


[Alberto Pimentel, in "Fotografias de Lisboa"]


(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


segunda-feira, 29 de agosto de 2022

Diálogos quase Surdos...


«Isto é mar não é?»

(Não, não é, é apenas o Tejo...)

«Mas tem ondas!»

(Um dia vais perceber que o vento faz grandes ondas...)

«E é tão largo. Os rios não são assim, como os mares...»

(E a criança continuou, por ali, no interior do cacilheiro cheio de perguntas e  de dúvidas, ao mesmo tempo que várias pessoas tentavam levar o Tejo para casa, dentro do seu telemóvel, nas janelas do Cacilheiro)


(Fotografia de Luís Eme - Cacilheiro)


domingo, 31 de julho de 2022

"O Tejo Corre no Tejo"


Tu que passas por mim tão indiferente,
no teu correr vazio de sentido,
memória que sobes lentamente,
do mar para a nascente,
és o curso do tempo já vivido.

Não, Tejo,
não és tu que em mim te vês,
- sou eu que em ti me vejo!

Por isso à tua beira de demora
aquele que a saudade ainda trespassa,
repetindo a lição, que não decora,
de ser, aqui e agora,
só um homem a olhar para o que passa.

Não, Tejo,
não és tu que em mim te vês,
- sou eu que em ti me vejo!
[...]

[Alexandre O'Neill, in "Feira Cabisbaixa"]


(Fotografia de Luís Eme - Tejo)

quinta-feira, 30 de junho de 2022

"... como que lisboandando"



[...]
E à medida que se despe
a seus pés
em cada gesto a veste
de afectos, fetos
de uma nova raiz...

E em cada cicatriz
lá onde a vida magoa
o Tejo beija Lisboa
num namoro que merece.
E esta Lisboa que agradece...

[Fernando Machado Antunes in "...como que lisboandando"]


(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


terça-feira, 21 de junho de 2022

"Lisboa (1)"



Lisboa (1)

por trás dos muros da cidade
no seu coração profundo de alicerces
de argilas e de sísmicos arroios - cresce um voz
que sobe e fende a brandura das casas

da escrita dos inumeráveis povos quase
nada resta - deitas-te exausto na lâmina da lua
sem saberes que o tejo te corrói e te suprime
de todas as idades da europa

mais além - para os lados do corpo - permanece
a tosse dos cacilheiros os olhos revirados
dos mendigos - o tecto onde um navio
nos separa de um vácuo alimentado a soro

plátanos brancos recortam-se luminescentes no olhar
de quem nos olha contra um céu desesperado - jardim
de íris açucenas palmeiras cobertas de rocio e
a ponte que nos leva aos campos do sul - lisboa

lugar derradeiro do riso
que já não te pode salvar do cemitério dos prazeres

e morres
carregado de tristezas e de mistérios - morres
algures
sentado numa praceta de bairro - o olhar fixo
no inferno marítimo das aves


[Al Berto in "Horto de Incêndio]


(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)



                                                                    terça-feira, 31 de maio de 2022

                                                                    Quando se sente demais...


                                                                    Volto a Bernardo Soares e ao "Livro do Desassossego" neste final e Maio...

                                                                    [...] Muita vez me tem sucedido querer atravessar o rio, estes dez minutos do Terreiro do Paço a Cacilhas. E quase sempre tive como que a timidez de tanta gente, de mim mesmo e do meu propósito. Uma ou outra vez tenho ido, sempre opresso, sempre pondo somente o pé em terra de quando estou de volta.

                                                                    Quando se sente de mais, o Tejo é Atlântico sem número, e Cacilhas outro continente, ou até outro universo.  [...]


                                                                    (Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


                                                                    sábado, 28 de maio de 2022

                                                                    A "Cidade Branca" de Adília Lopes


                                                                    Adília Lopes é uma poeta de Lisboa que nos oferece alguma dose de loucura e de beleza nas suas palavras, diferentes, com uma marca muito pessoal, como nesta sua Cidade Branca.


                                                                    Cidade branca 
                                                                     
                                                                    Cidade branca
                                                                    semeada
                                                                    de pedras

                                                                    Cidade azul
                                                                    semeada
                                                                    de céu
                                                                     
                                                                    Cidade negra
                                                                    como um beco
                                                                     
                                                                    Cidade desabitada
                                                                    como um armazém
                                                                     
                                                                    Cidade lilás
                                                                    Semeada
                                                                    de jacarandás
                                                                    Cidade dourada

                                                                    semeada
                                                                    de igrejas
                                                                     
                                                                    Cidade prateada
                                                                    semeada
                                                                    de Tejo
                                                                     
                                                                    Cidade que se degrada
                                                                    cidade que acaba
                                                                     
                                                                    Adília Lopes


                                                                    (Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


                                                                    sábado, 30 de abril de 2022

                                                                    Ainda as "Odes ao Tejo" de Armindo Rodrigues...


                                                                    Escolhemos publicar a parte final da "Ode Décima", de Armindo Rodrigues, por ter mais Tejo...


                                                                    [...]

                                                                    Sou eu, Tejo,
                                                                    a sufocar, até ao impulso mais íntimo,
                                                                    os anseios que me enchem,
                                                                    para não quebrar o sossego tão puro
                                                                    e, simultaneamente, sensual que me envolve.

                                                                    Sou eu, Tejo,
                                                                    a sentir-me com estranheza, eu próprio
                                                                    sereníssimo,
                                                                    apenas, porventura, um pouco receoso
                                                                    de que a piedade,
                                                                    impotente, 
                                                                    me endureça.


                                                                    (Fotografia de Luís Eme - Tejo)


                                                                    quarta-feira, 27 de abril de 2022

                                                                    As "Odes ao Tejo" de Armindo Rodrigues


                                                                    Em 1972 o poeta Armindo Rodrigues publicou um livro que dividiu em três partes: "Odes ao Tejo", "As Sete Luas do Poeta Gomes Leal" e "Lisboa Próxima e Distante".

                                                                    Por razões óbvias, é a primeira parte que nos interessa e é por isso que publicamos algumas das "quintilhas" que escreveu da "Ode Primeira":


                                                                    Nas tardes dos domingos em que o sol
                                                                    tem um brilho mais nítido e mais quente
                                                                    e os cafés estão cheios de uma gente
                                                                    burguesa, tola, amargurada e mole,
                                                                    busco a beira Tejo, transparente

                                                                    [...]

                                                                    Olho o lado da barra, que não vejo,
                                                                    e de novo Camões o Tejo cruza, ´
                                                                    opondo ao tempo a epopeia lusa,
                                                                    e Bocage de novo cruza o Tejo,
                                                                    tangendo, magoa sua vária musa.


                                                                    (Fotografia de Luís Eme - Lisboa)



                                                                    terça-feira, 19 de abril de 2022

                                                                    "Uma Janela para esse Monumento que é o Tejo..."


                                                                    Raul Solnado, um dos grandes comediantes portugueses do século XX, falou do Tejo no inesquecível suplemento DNA,  do Diário de Notícias", em Outubro de 1997:

                                                                    «E o Tejo? É uma estátua descomunal. No outro dia vinha num barco e vi um milhão de janelas e pensei assim: “Meu Deus, eu nunca consegui ter assim uma janela para esse monumento que é o Tejo…”.»

                                                                                                                

                                                                    (Fotografia de Luís Eme - Tejo)


                                                                    segunda-feira, 28 de março de 2022

                                                                    "Quase uma Ode ao Tejo"

                                                                     

                                                                    Quase uma Ode ao Tejo

                                                                    O rio dá cabo de mim. 
                                                                    Recolho pedras, pedrinhas,
                                                                    à beira,
                                                                    onde o cais soçobra.
                                                                    Nos olhos, pedras, blocos mágicos
                                                                    limosos, submersos;
                                                                    pedrinhas, na algibeira, quantas posso
                                                                    e tenho
                                                                    com elas tolas teimosias
                                                                    entre os dedos
                                                                    curiosos de tudo.
                                                                    Todas não recolho.
                                                                    Escolho-as uma a uma.
                                                                    Atiro algumas ao voo das ondas
                                                                    e pasmo de ver a cidade
                                                                    carregar de luzes um navio
                                                                    que procura o mar.
                                                                    São luzes enigmáticas, difusas;
                                                                    outras, fulgurantes,
                                                                    as que salpicam, o mundo das águas,
                                                                    o que vou pensar.

                                                                    O rio dá cabo de mim.
                                                                    Vejo-o molhar o casco do navio.

                                                                    [Rui Cinatti, in "Tempo da Cidade"]


                                                                    (Fotografia de Luís Eme - Tejo)


                                                                    sexta-feira, 25 de março de 2022

                                                                    "A Outra Margem"

                                                                     

                                                                    A Outra Margem

                                                                    O silêncio que me habita vive
                                                                    numa casa-castelo habitada
                                                                    por crianças sem olhos, dementes
                                                                    sempre sempre abandonadas.

                                                                    Um rio nos separa delas, tanto...
                                                                    Um rio fundo, feroz, intratável. 
                                                                    Passar o rio custa muito...
                                                                    ou não custa - raios! - nada mesmo.

                                                                    Abrir as portas do castelo-casa,
                                                                    sentir crianças cegas, destroçadas,
                                                                    esse o problema 
                                                                    que me persegue...

                                                                    Resisto por mais que custe...
                                                                    Paro perante fachadas.
                                                                    Pairo no rio e cresço...
                                                                    temente sempre que uma das portas se abra.

                                                                    [Rui Cinatti, in "Tempo da Cidade"]


                                                                    Fotografia de Luís Eme - Cacilhas)


                                                                    segunda-feira, 28 de fevereiro de 2022

                                                                    "A Enseada Azul do Tejo"

                                                                     

                                                                    «Para lá deste tumulto de formas e cores, rasga-se em frente a enseada azul do Tejo, tão ampla e tamisada de tons que logo funde tudo e mais em seu esplendor e vastidão.

                                                                    A vista corre, lés a lés deste vasto cenário, desde a barra e o mar até às vastas lezírias do Ribatejo, que já mal se lobrigam ao nascente. Entre a barra e o pontal de Cacilhas, apertado a sul pelas colinas baixas da Trafaria, Lazareto e Almada, estende-se o canal do rio, dum azul intenso e concentrado. Logo, e de chofre, o Tejo abre a enseada imensa, que mais diríamos um lago, tão remansoso e fechado nos fica a toda a volta. Para lá do pontal, mais abrigada, a enseada do Alfeite espelha as águas límpidas e quietas dum azul leitoso.»


                                                                                                                               [Jaime Cortesão, “O Jornal”, 22 Ago 86]

                                                                    (Fotografia de Luís Eme - Tejo)



                                                                    domingo, 9 de janeiro de 2022

                                                                    "Onde Estás?"



                                                                    "Onde Estás?"

                                                                    Sai do Cacilheiro,
                                                                    quase vazio.
                                                                    E depois
                                                                    fiz-me ao teu Ginjal.
                                                                    Apeteceu-me telefonar-te.
                                                                    Saber de ti neste começo
                                                                    de um ano que parece 
                                                                    que já nasceu velho.
                                                                    Sentei-me da esplanada
                                                                    das mesas e cadeiras amarelas.
                                                                    Bebi um chá quente
                                                                    puxei do meu caderno
                                                                    e comecei a escrever
                                                                    com a pergunta:
                                                                    "onde estás?"

                                                                    Laura Martinho


                                                                    (Fotografia de Luís Eme - Ginjal)