segunda-feira, 23 de novembro de 2020

"Duas Sombras"


Pensava que este meu blogue, que flutua, nada e mergulha nas águas do Tejo, ia ser um sucesso. "Pensava" porque cometia um velho erro, esse mesmo, o de pensar que "o meu gosto é parecido com o gosto dos outros".

Parece que afinal não é.

Mudando de assunto, felizmente tenho alguns amigos que amam e escreveram sobre o Tejo, como é o caso do poeta Alberto Afonso, autor deste bonito poema:


Duas sombras
 
Duas sombras
Vogam em total liberdade,
Um imenso corpo
Feito de águas e de batalhas.
 
São duas aves brancas
Que anunciam o regresso
De uma breve viagem
No tempo e na vida.
 
Poisaram nas margens do Tejo
Como quem poisa num sonho
Perfumado por vozes e maresia.
 
São agora dois seres imensuráveis
Embriagados de um silêncio azul e voluptuoso
Tal como o rio, que os viu nascer há tanto.
 
Em fino areal humedecido
Homem e mulher, caminham harmoniosamente
Como se fossem dois dóceis animais
Que desvendam
Em cada concha sem vida
Tudo o que lhes resta
Do seu mundo de memórias por contar

(Foto de Luís Eme - Ginjal)


terça-feira, 17 de novembro de 2020

O Ginjal do Romeu (com o Rio)...


A minha homenagem a Romeu Correia, que faz hoje 103 anos. E que ainda continua a ser a grande figura da literatura almadense.

«Que sítio deslumbrante! Havia o lavadouro das mulheres, as escadinhas para o cais do Ginjal, e o rio e os barcos… O rio e os barcos sobretudo! E metia-lhe uma confusão de encantar aquela enorme massa de água assim toda junta – porque tão depressa aquilo parecia estar no seu devido lugar, como ser um comprido pano azul ligado ao próprio céu.»

[Romeu Correia, in "Os Tanoeiros"]


(Fotografia de Luís Eme - Ginjal)