domingo, 31 de maio de 2020

"O Fotógrafo da Névoa"


Mais uma homenagem  ao meu amigo, Fernando Barão, que nos deixou na passada segunda-feira, com um poema onde me inspiro no amante da fotografia, que adorava tirar retratos em dias com nevoeiro...
              
                                                                      (ao Fernando Barão)



O Fotógrafo da Névoa

Quando ouve a ronca do Farol
sente que o chamam no cais
para tirar retratos sem Sol
de belas paisagens fluviais

Prepara tudo com cuidado
a "kodak" é uma caixa de surpresas
que às vezes o deixa abismado
por o deixar fixar tantas belezas

A sua Isabel fica ao balcão
ele lá vai, atrás do nevoeiro
movido pela sua outra paixão.

Quem o olha, ali rente ao rio
ignora aquele artista de corpo inteiro
capaz de arrancar beleza até do vazio.

[Luís (Alves) Milheiro]


(Fotografia de Luís Eme - Ginjal)

segunda-feira, 25 de maio de 2020

"Aquelas Praias"


Hoje abro uma excepção fotográfica e publico juntamente com o poema "Aquelas Praias", de Fernando Barão, uma sua fotografia da "Praia das Lavandeiras", que faz jus ao nome, no Ginjal (praia onde hoje se encontra o restaurante "Atira-te ao Rio").

É a homenagem a um amigo, que partiu hoje...

Aquelas Praias

Éramos como bandos de pardais livres como o vento. 
- Até as gaivotas deveriam ficar enciumadas -
Logo, a baixas horas,  os caminhos eram percorridos em tropel
O meio liquido estava ali à nossa vista para o regabofe
com as roupas que Deus nos ofereceu à nascença...
Margueira, Lavadeiras, Alfeite, refúgios dos que sabiam nadar
e dos que se agarravam à água...
Nos tempos frios a malta ficava nostálgica, sem brilho, 
sem fulgor, sem aquele visionamento de horizontes azuis
que se alongavam até terras do Ribatejo.

(Fotografia de Fernando Barão - Ginjal)


terça-feira, 19 de maio de 2020

«Porque me chamam Gaivota?»


Maria Rosa Colaço em 1982 publicou um conto sobre o "Gaivota", com o mesmo título. "Gaivota" era um rapazola de Cacilhas, que cresceu paredes meias com o Tejo. Deixo aqui uma pequena transcrição, onde ele esboça a sua "história de vida"...

«[...] Porque me chamam "Gaivota"?
Está mesmo a ver-se... Tenho passado entre os barcos e o Tejo, em cima deste paredão, correndo e escorregando nestas pedras húmidas, mais de metade da minha vida: às vezes, até a pele me sabe a sal.
Ando nisto desde que o meu pai morreu; ajudo um e outro, vendo jornais, pensos, aprendo bocados de palavras de outras terras; invento ruas de outros países quando vejo os estrangeiros de cabelos amarelos e  dinheiro nos bolsos, a comer camarão e lagosta: vivo!
Como tenho a mania de andar em cima desta parede, de asas abertas, como as gaivotas, um dia começaram a chamar-me "Gaivota" e "Gaivota" fiquei. O meu nome é Alfredo. Mas isso não interessa porque ninguém o sabe e Gaivota, afinal, é o que eu queria ser. De verdade, pois! Asinhas a dar-a-dar; peixinho fresco e, lá em cima, lá em cima no vento, no azul, avião-sem-motor, namorado das ondas, sol morno nas costas, dono do Tejo, dono de mim, bicho livre! [...]»

(Fotografia de Luís Eme - Tejo)

domingo, 10 de maio de 2020

"Descobrir Lisboa e a Luz Vinda do Rio-Mar..."


Hoje publico o conselho dado pelo realizador José Fonseca e Costa, que já nos deixou, em 2010, nas páginas do "Público":

«Aprendam a descobrir Lisboa e a luz vinda do rio-mar em que a cidade se deixa envolver, este rio Tejo misteriosamente aberto num mar mediterrâneo à sua frente, um mar que começa no mais belo cais com que uma cidade ao mar se possa juntar, o Cais das Colunas – nossa “Saudade de Pedra”.»
   
                         
(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)