domingo, 27 de outubro de 2019

"Uma Gaivota com Óculos"



O Carlos Pinhão, além de excelente jornalista, era também um grande contador de histórias. Escreveu vários livros, especialmente para o público mais jovem.

Um desses livros foi "Uma Gaivota com Óculos", que começa com o relato pitoresco de uma viagem a Almada, que passo a transcrever:

[...] «Era uma vez um sujeito que vivia em Lisboa e que foi convidado para ir a Almada contar histórias às crianças, Disse que sim, pegou nuns papéis em que tinha umas histórias escritas e, no Terreiro do Paço, apanhou um barco para Cacilhas.
Ia no barco a reler os papéis, a ver se decorava as histórias, quando o vento, inesperadamente, lhe arrancou as folhas das mãos. Ficou muito aflito a ver os papéis no ar.
Logo passou a aflição ao Sujeito dos Papéis, agora muito entusiasmado com aquele espectáculo imprevisto. As gaivotas devem ter pensado que se tratava de peixe, porque foram apanhar as folhas que estavam na água e deram-lhe valentes bicadas, enquanto mais acima, outras gaivotas disputavam outras folhas, puxando cada qual para seu lado.» [...]

(Fotografia de Luís Eme - Tejo)

domingo, 20 de outubro de 2019

A Convenção de Albufeira


Fazemos um intervalo, porque o Tejo não vive da poesia, nem das palavras bonitas.

Divulgamos as palavras da jornalista Carla Tomás, no "Expresso", a 12 de Outubro, em que se percebe (como é costume...) que os números oficiais diferem dos divulgados pelos ambientalistas: 

«A Convenção de Albufeira, que gere os rios que atravessam os dois países, define caudais mínimos anuais, trimestrais e semanais (ver números). E neste ano hidrológico (de 1 de outubro de 2018 a 30 de setembro de 2019) Espanha terá cumprido à pele o caudal mínimo anual. A Agência Portuguesa do Ambiente garante que os valores anuais “foram cumpridos no limite”, tendo chegado à albufeira de Fratel 2700,31 hectómetros cúbicos de água. Porém, os ambientalistas do movimento proTejo põem em causa estes números. “Pelas nossas contas, com base no que chega a Fratel e em informação do antigo Inag, ficam a faltar perto de 200 hm3, que teriam de vir de afluentes nacionais e não de Cedillo”, garante Paulo Constantino, do proTejo.»

(Fotografia de Luís Eme - Fratel)
                                              

segunda-feira, 7 de outubro de 2019

Querer Atravessar o Rio...


«[...] Muita vez me tem sucedido querer atravessar o rio, estes dez minutos do Terreiro do Paço a Cacilhas. E quase sempre tive como que a timidez de tanta gente, de mim mesmo e do meu propósito. Uma ou outra vez tenho ido, sempre opresso, sempre pondo somente o pé em terra de quando estou de volta.
Quando se sente de mais, o Tejo é Atlântico sem número, e Cacilhas outro continente, ou até outro universo. [...]

[Bernardo Soares, In "Livro do Desassossego"]


(Fotografia de Luís Eme - Cacilhas)