quinta-feira, 27 de junho de 2019

Tela Portuguesa



[...] «Já não me reconheço na criança que às vezes vinha de Moura e atravessava o grande rio, de olhos deslumbrados, entre gaivotas e navios descomunais, e desembarcava no Terreiro do Paço, todo simétrico na sua verde harmonia palaciana.» [...]


[Urbano Tavares Rodrigues, in “Tela Portuguesa”]


(Fotografia de Luís Eme)

domingo, 16 de junho de 2019

Adeus Lisboa!


António Gedeão, volta ao "Olha o Tejo", porque sim...


Vou-me até à Outra Banda
no barquinho da carreira.
Faz que anda mas não anda;
parece de brincadeira.
Planta-se o homem no leme.
Tudo ginga, range e treme.
Bufa o vapor na caldeira.
Um menino solta um grito;
assustou-se com o apito
do barquinho da carreira.
Todo ancho, tremelica
como um boneco de corda.
Nem sei se vai ou se fica.
Só se vê que tremelica
e oscila de borda a borda.
[…]

A vida é leve e arrendada
como esta réstea de espuma
toda a gente é séria e é boa!
Não existem homens maus!
Adeus Tejo! Adeus Lisboa!
Adeus Ribeira das Naus!
Adeus! Adeus! Adeus! Adeus!



[António Gedeão, in "Adeus Lisboa"]


(Fotografia de Luís Eme - Tejo)

quinta-feira, 13 de junho de 2019

O Tejo, Lago Azul...



Porque hoje é dia do nosso Fernando António...


«[...] Tenho um sorriso grandemente metafísico para os que sonham que o sonho é sonho, e amo a verdade do exterior absoluto com uma virtude nobre do entendimento. O Tejo ao fundo é um lago azul, e os montes da Outra Banda são de uma Suíça achatada. Sai um navio pequeno — vapor de carga preto — dos lados do Poço do Bispo para a barra que não vejo. Que os Deuses todos me conservem, até à hora em que cesse este meu aspeto de mim, a noção clara e solar da realidade externa, o instinto da minha importância, o conforto de ser pequeno e de poder pensar em ser feliz. [...]»

[Bernardo Soares, In "Livro do Desassossego"]


(Fotografia de Luís Eme)

segunda-feira, 10 de junho de 2019

Rio à Beira da Ribeira de Lisboa...


Porque hoje é um dia diferente, faço uma homenagem dentro de outra homenagem, ao Mestre Lagoa Henriques...


[…]
a alfama onde moram
as tuas varinas
peixeiras
como tu dizes
são elas próprias
feitas de bairro
alicerce movente
arquitectura sem paredes
portas e janelas de ternura.

[...]
de gestos-de gestos
os gestos da tua pintura
os gritos modulados do
teu desenho no céu claro
fortemente iluminado
da beira-rio

da beira-tejo
do rio à beira
da ribeira de lisboa.
[…]

[Poema de Lagoa Henriques de homenagem a Luis Dourdil]



(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)

quarta-feira, 5 de junho de 2019

A Lapa, de onde se avistava a bela Lisboa...


Aproveito o Tejo para homenagear Idalina Alves Rebelo, uma senhora encantadora de Cacilhas (esta Lapa ficava em Cacilhas...) de quem fui amigo, que já nos deixou, e que assinava os seus poemas e quadros como Any Ana...


«A Lapa, de onde se avistava a bela Lisboa, o Rio Tejo com barcos de todas as espécies e "calados", o Largo com a velha Parceria dos barcos grandes e o embarque dos pequenos, o grande movimento de táxis, as primeiras camionetas, as barracas de frutos com seus vendedores, as carrinhas de fretes, que antes eram feitos em carroças puxados por muares, o Chafariz ali perto, o Farol ao fundo junto ao rio, contando com o vaivém dos operários, que ao som da "gonga" da doca enchiam de alegria e movimento, junto aos pregões dos vendedores ambulantes [...].»


[Any Ana, in "A Lapa"]


(Fotografia de Luís Eme - Cacilhas)