sábado, 23 de fevereiro de 2019

Memória de Lisboa...


Descobri há pouco tempo o álbum, "Memória de Lisboa", de Rómulo de Carvalho, o outro lado do poeta António Gedeão, cuja obra nos desvenda o muito que  escreveu e fotografou sobre a sua Cidade.

Naturalmente, o Tejo aparece em muitas das suas páginas...

«[...] A face sul do Terreiro do Paço, voltada para o Tejo, é lugar de peregrinação do povo de Lisboa atraído pelo movimento das ondas. A toda a hora, de manhã, de tarde ou à noite, com a gola levantada ou em mangas de camisa, ali se encosta ao paredão a melancolia portuguesa.[...]»


(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)

domingo, 17 de fevereiro de 2019

Uma Escritora, uma Rua e o Tejo...


Embora a transcrição que vou publicar não esteja directamente ligada com a imagem (algo que acontecerá algumas vezes por aqui, com alguma naturalidade...), pois a Rua Irene Lisboa (a minha rua desta Margem do Tejo), em Cacilhas, não é um lugar "tristissimo", e tem lá em baixo a Lisnave e o Mar da Palha, e não a parte mais estreita do Rio...
Neste caso particular achei por bem fazer a ligação da rua à escritora e ao Tejo, esquecendo as geografias do "melhor rio do mundo" escolhidas pela escritora no seu livro...

«Aquele sítio onde tinha ido arranjar casa era tristíssimo, muito arredio e pobre, com terras de entulho à frente. Velho arrabalde da cidade! O Tejo lá em baixo, na sua parte mais estreita, oferecia-lhe de longe uma miragem fantástica, admirável e desesperadora.»
                                                                                                     
 [Irene Lisboa, in "Esta Cidade!"]

(Fotografia de Luís Eme - Cacilhas)

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2019

O Tejo e o Neo-realismo...


Alves Redol e Soeiro Pereira Gomes, escritores neo-realistas, que cresceram e viveram à beira do Tejo, em Vila Franca de Xira e Alhandra, escreveram várias obras que homenageiam as gentes do Rio. 

Os belos romances, "Avieiros" e "Esteiros", são um bom exemplo do que acabamos de dizer, pelo que transcrevemos, com a devida vénia, duas frases curtas, mas de grande simbolismo: 

«[...] Os velhos falavam num Tejo que fora um jardim de peixes; e diziam que andavam todos a pagar o pecado das guerras e das artes modernas de pescar. [...]» (Avieiros)

«[...] Quando o Tejo passa, algo acontece sempre, porque um rio tem as suas glórias e os seus dramas como os homens. Um rio vive, respira, trabalha, constrói e destrói. [...]» (Esteiros)

(Fotografia de Luís Eme -Trafaria)

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2019

O Cacilheiro e a Gaivota...


«[...] O cacilheiro no Tejo, é assim, diariamente, a estrada possível das outras viagens que nunca faremos. Nele começam e acabam as asas e as barbatanas de luz que séculos de adaptação à vida nos têm roubado.
É então que na manhã alada, o acordeão do cego nos devolve o eco da alegria possível.
Por entre pés, cestas, jornais, indiferença e alguns ouvidos atentos, vai o cego acordeando os fados da sua memória, deixando nas vigias algumas palavras de amor; quanto baste de saudade e as raivas, breves do nosso fado português,
Às vezes vou aqui, na amurada do cacilheiro; olho as gaivotas que pairam, voo rasteirinho, voo picado, voo maluco e penso, Liberdade é isto: ser gaivota branca.
Gaivota do Tejo. [...]»

                                              [Maria Rosa Colaço, in Almada, uma gaivota no vento"]

(Fotografia de Luís Eme - Tejo)

terça-feira, 5 de fevereiro de 2019

As Fragatas e o Tejo...


"Olha o Tejo" recebe mais um poema meu...


As Fragatas e o Tejo

As Barcas maiores
são quase cobertas
pelas velas de lençol
que se agitam ao vento
e as levam pelo rio fora
sem qualquer lamento…

As barcas maiores
deixam-se levar
pelo sonho e pelo vento
fazendo sonhar os poetas
que as olham nas margens
e queriam tanto navegar…

[Luís Alves Milheiro]

(Fotografia de Luís Eme - Tejo)

domingo, 3 de fevereiro de 2019

"A Janella do quarto de trabalho..."


«A janella do quarto de trabalho deitava para o Tejo. No meio da verdura dos quintaes e das hortas resaíam as casas, que se aglomeravam pela encosta até á beira do rio. Os montes do outro lado.
Se a margem esquerda do Tejo fosse arborisada de pínheiraes, como é a do Douro, que aprasivel effeito não produziria no animo do viajante, que já vem maravilhado com a entrada da barra de Lisboa. 
A vista dilatava-se pelo espaçoso largo, descia pela encosta. ingreme, e espraiava-se pelas aguas transparentes do rio.
O gabinete de estudo era pequeno. No inverno aconchegado, agasalhado ou "confortável", como agora se diz. Na primavera e verão abria-se a grande janella, e arejava-o a brisa fresca do mar.
Uma janella que deita para o mar desafoga os pulmões e também a alma.»

                                                                             [Bulhão Pato, in "Sob os Ciprestes"]


(Fotografia de Luís Eme - Monte de Caparica)

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2019

O Tejo do Fernando, Pessoa (s)...


Fernando Pessoa escolheu Alberto Caeiro ("Guardador de Rebanhos"), um dos "reflexos do seu espelho", para nos falar do Tejo e também do Rio da sua Aldeia...

Começa assim:

O Tejo é mais belo que o rio que corre pela minha aldeia,
Mas o Tejo não é mais belo que o rio que corre pela minha aldeia
Porque o Tejo não é o rio que corre pela minha aldeia.

E diz coisas tão simples como:

O Tejo desde de Espanha
E o Tejo entra no mar em Portugal.

Pelo Tejo vai-se para o Mundo.
Para além do Tejo há a América
E a fortuna daqueles que a encontram.

E depois acaba assim:

O rio da minha aldeia não faz pensar em nada.
Quem está ao pé dele está só ao pé dele.

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)