quinta-feira, 26 de setembro de 2019

Balada do Cais das Colunas



Balada do Cais das Colunas (a José Cid)

Cais das Colunas, janela
Do Tejo, do Mar da Palha
Registas um barco à vela
Que noite e dia trabalha

Bote, batel ou canoa
Bateira, falua, enviada
Traz o peixe de Lisboa
No preço de quase nada

Varino, muleta, fragata
Cangueiro, proa redonda
Catraio onde a serenata
Não tem voz que responda
[...]

Mistério, o Tejo amplia
Em homens e cacilheiros
E na faina do dia a dia
Os sonhos são verdadeiros

E povoam todo o luar
Da noite do que persiste
As horas de trabalhar
Não dão para ser triste

Inscrevem-se na paisagem
Nos barcos, mercadoria
Ligam uma, outra margem
Na mais teimosa alegria

[José do Carmo Francisco]


(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)

terça-feira, 10 de setembro de 2019

Retrato do Povo de Lisboa



Retrato do Povo de Lisboa

[...]
É da voz do meu povo uma criança
semi-nua nas docas de Lisboa
que eu ganho a minha voz
caldo verde sem esperança
laranja de humildade
amarga lança
até que a voz me doa.

Mas nunca se dói só quem a cantar magoa
dói-me o Tejo vazio dói-me a miséria
apunhalada na garganta.
Dói-me o sangue vencido a nódoa negra
punhada no meu canto.

[Ary dos Santos, in "Fotos-grafias"]


(Fotografia de Luís Eme - Ginjal)

terça-feira, 3 de setembro de 2019

Sentada, à Beira Rio...



Esperas que o dia fuja,
mas ele demora tempo
a ir embora...

A tua sorte
é puderes esperar, 
sentada à beira rio,
entretida a contar as barcas
que entram e saem do estuário.

Sempre gostaste da noite.
E se ela estiver iluminada 
pela Lua e pelas estrelas
ainda te sentes mais fascinada...

[Sophia Manoel]


(Fotografia de Luís Eme- Ginjal)