quarta-feira, 21 de julho de 2021

"Quintal do Meu Olhar"

 


Quintal do Meu Olhar

Meu humilde rio, meu companheiro, quantas vezes te tenho
sido ingrata
                 e pensado; que pena não seres o mar
o alto mar selvagem!
                Confesso que lhe apeteço
o sem limite
                sem casas sem casos sem coisas
sem nada
                Mas tu és o amplo quintal do meu olhar
quotidiano
                onde crio minhas soltas gaivotas com o milho
dos meus versos
                A líquida selva do mar não consente 
as diárias labutas os pequenos júbilos do pobre bicho
que somos
            Desculpa a ingratidão de às vezes te desejar maior 
mais possante mais sozinho
            És tão meu amigo!
            No ir e vir dos pequenos barcos afadigados
me dás constantemente de vaia
            e ofereces-me as brancas 
flores de espuma em que te desentranhas enquanto
te vão sulcando
            As tuas gruas e os teus guindastes sempre em sereno
movimento dão-me exemplos de apego 
à vida
            Anima-te!
            Gritas à minha tristeza
sem interromper a tua lida
            de fato de ganga e flor na orelha 
sempre jovem
            Não mudaste desde que te conheço
Que fazes para não envelhecer?
            Talvez um dia destes quando a Lisnave
desaparecer
            e desaparecerem os barcos as gruas os guindastes
eu perceba com o coração desfeito, que és mortal

[Teresa Rita Lopes, in "Afectos"]


(Fotografia de Luís Eme - Cacilhas)

quinta-feira, 15 de julho de 2021

"Espreitar o Rio das Colinas"


 

Espreitar o Rio das Colinas
 
Lisboa é um encanto.
Quem disser o contrário é mentiroso.
Há algo mais bonito que o Tejo
e os seus bairros erguidos
 nas colinas da cidade?
 
Adoro espreitar o rio,
de qualquer uma das suas colinas,
de qualquer um dos seus miradouros.
Amo Lisboa!
 
Zé Gê Éfe

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


segunda-feira, 5 de julho de 2021

"Do Alto da Memória"



 Era Velhinha

Conheci Almada velhinha
Bem na minha mocidade
Quando se moia farinha
Na Cova da Piedade

Almada e as suas gentes
Todos tinham um desejo
Formarem fortes correntes
Bem amarradas ao Tejo

Lamento ter desaparecido
Uma das suas maravilhas
Mas já foi devolvido
O grande Farol de Cacilhas

Naqueles dias sem Sol
Com intenso nevoeiro
Era o sinal do Farol
que atracava o cacilheiro.

Manuel dos Anjos Delgado


Homenagem a um amigo que nos deixou ontem e gostava muito de escrever poesia. Este poema faz parte do seu terceiro livro, "Do Alto da Memória".


(Fotografia de Luís Eme - Cacilhas)