terça-feira, 31 de março de 2020

"Vai ao Encontro do Rio"


Aceitei o "desafio" da Maria Rosário Pedreira, das "Horas Extraordinárias" e fiz quase um fado, na tentativa de ilustrar estes dias, ao mesmo tempo que procuro homenagear todos os funcionários de hospitais e centros de saúde (especialmente médicos, enfermeiros e auxiliares de enfermagem)...


Vai ao Encontro do Rio

Vai ao encontro do rio
Que lhe dá a ilusão de ser mar
Sem medo das nuvens e do frio
Para ficar ali, parado, a olhar

Não consegue despir a dor
Após mais um dia passado
Nos corredores do terror
Que o deixam tão arrasado

Parece um autómato a andar
Pelas ruas da cidade que ama
Sem ter tempo para sonhar.
Até que alguém o chama

Um polícia faz-lhe sinal.
É para desaparecer
Como se fosse ele o mal
Que está a deitar tudo a perder

O agente nem sequer sonha
Que ele é um simples enfermeiro
Que fura esta Lisboa tristonha
Antes de apanhar o cacilheiro

Vai apenas ao encontro do rio
Que lhe dá a ilusão de ser mar
Sem medo das nuvens e do frio
Para ficar ali, parado, a olhar
  
Luís (Alves) Milheiro


(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)

sexta-feira, 27 de março de 2020

"Amo o Tejo..."



«[...] Nada disso me interessa, nada disso desejo. Mas amo o Tejo porque há uma cidade grande à beira dele. Gozo o céu porque o vejo de um quarto andar de rua da Baixa. Nada o campo ou a natureza me pode dar que valha a majestade irregular da cidade tranquila, sob o luar, vista da Graça ou de São Pedro de Alcântara. Não há para mim flores como, sob o sol, o colorido variadíssimo de Lisboa. [...]»

[Bernardo Soares, in "Livro do Desassossego"]


(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


sábado, 21 de março de 2020

"Olhar o Tejo" (e esta?)




Olhar o Tejo


Sempre que desço até ao cais
Fico por ali, encantado a olhar
Maravilho-me com as barcas e os arrais
Mesmo sem saber onde fica o mar

Olho para Norte e para Sul
Para toda aquela largueza
De água pintada de verde e azul
Que me enche os olhos de beleza

Prefiro ficar por ali a sonhar
Nunca pergunto a ninguém
Onde acaba o Tejo e começa o mar
Ou para que lado fica Belém

Sei que um dia vou descobrir
E depois nunca mais esqueço
Sem tão pouco deixar de sorrir
Para este rio, tão belo e tão avesso

Sempre que desço até ao cais
Fico por ali, encantado a olhar
Maravilho-me com as barcas e os arrais
Mesmo sem saber onde fica o mar

Nunca pergunto a ninguém
Onde acaba o Tejo e começa o mar
Ou para que lado fica Belém
Prefiro ficar por ali a sonhar

[Luís (Alves) Milheiro]


(Fotografia de Luís Eme - Tejo)


terça-feira, 17 de março de 2020

O Tejo, entre as Ausências e o Encanto...


O Tejo entre as Ausências e o Encanto...

Enquanto percorres as ruas
pensas nos teus amigos, ausentes,
que as deixaram quase nuas
e tornaram estes dias tão diferentes.

O vento forte faz-te companhia
e força as árvores a uma dança
insinuante e povoada de energia
que te dão tudo menos esperança.

Tens algum receio de chegar ao cais
que só pode estar uma tristeza
sem os teus companheiros habituais
povoados de histórias sem subtileza

Ainda não chegaste ao fim da rua
e já vês o Tejo, a querer espreitar.

Mesmo sem qualquer barca ou falua
ele é um encanto para qualquer olhar.

[Luís (Alves) Milheiro]


(Fotografia de Luís Eme - Tejo)

sábado, 7 de março de 2020

O Tejo ao Fim da Tarde...


A tarde fugia e um Cacilheiro navegava no Tejo, com o olhar preso ao cais de Cacilhas.

Lembrei-me dos tempos em que ficava à tua espera, sem ter a certeza, se era aquele o cacilheiro, que te trazia de volta a casa...

Entretanto passaram mais de duas décadas e o mundo é ligeiramente diferente.

Ainda não havia telemóveis, nem dava muito jeito, fazer "sinais de fumo", de uma margem para a outra...

O comboio da ponte, o teu transporte de hoje, ainda era só um projecto...


(texto meu, de memória...)

(Fotografia de Luís Eme - Cacilhas)