domingo, 21 de maio de 2023

"Ribatejo e Alentejo"

 
Ribatejo e Alentejo

Ó águas do rio Tejo
De tão longe caminhando,
Entrea riba e o além,
Sempre, sempre deslizando.

Pelos campos, onde passam,
Às suas terras vão dar;
Alimento tão vital. 
Para as plantas medrar.

Suas águas espalhando,
As terras enriquecendo, 
Rio Tejo vai cheio,

Apressado vai descendo.

Apressado vai descendo,
Para no mar se deitar,
Rio Tejo vai com pressa,
Pressa de chegar ao mar.

[Manuel da Várzea, in "Pelos Caminhos da Poesia]


(Fotografia de Luís Eme - Vila Velha de Rodão)


sexta-feira, 19 de maio de 2023

"A Ilusão do Mar da Palha"



"A Ilusão do Mar da Palha"

Não sei porque lhe chamam Mar da Palha.
Também não me importa muito saber.
Sei que é mesmo um Mar, e que me já deixou perdida.
Sim, antes de conhecer bem as duas margens do Tejo, não sabia lá muito bem para que lado ficava o Mar.
Podia ficar na direcção de Belém, mas também podia ficar depois de Alcochete.
Gosto desta "ilusão" que nos é oferecida pelo Mar da Palha, que também deve baralhar muitos turistas, que gostam de perder o Norte e o Sul das coisas, como eu...

(Texto da Bela)


(Fotografia de Luís Eme - Almada)


domingo, 30 de abril de 2023

"Abril, Cacilhas e Tejo"

 


Abril, Cacilhas e Tejo

Abril vai embora,
mais mansinho,
cada vez mais mansinho.

Talvez seja verdade, 
e já não exista tempo 
para revolucionários e revoluções...

O Sol enche tudo
até as esplanadas de gente
que fala inglês com e sem sotaque.

O Tejo está cada vez mais salgado,
nesta outra Cacilhas que pisca o olho 
a quem atravessa o rio de Cacilheiro.

O Tejo está cada vez mais azul
nesta outra Cacilhas que faz vénias
a quem vem gastar dinheiro.

Zé Gê Éfe


(Fotografia de Luís Eme - Cacilhas)


quinta-feira, 20 de abril de 2023

"Era uma Delícia a Travessia do Tejo entre Margens"


[...] «No Verão, era uma delícia a travessia do Tejo entre margens. Cardumes de peixes eram visíveis e bandos de roazes nas suas cabriolices acompanhavam os barcos. Os passageiros já estavam tão habituados que não lhes ligavam. Alguns patuscos decalçavam-se e lá vinham com os pés dentro de água...

Era frequente, roazes e golfinhos subirem o Tejo junto à margem sul à caça de chocos e lulas que na época própria entravam no estuário à procura dos sapais do Seixal, Moita e Montijo para desovarem. Eram dias de festa para os cetáceos e pescadores de Cacilhas.» [...]


[Diamantino Lourenço, in "Cacilhas, ponto de  partidas, local de passagem"]


(Fotografia de Luís Eme - Tejo)


sexta-feira, 31 de março de 2023

"Roteiro de Lisboa"


Roteiro de Lisboa

Vejam meus senhores
é uma cidade
com suas crianças
homens sem idade

É uma cidade
cercada colhida
é uma cidade
uma rapariga

Casas de ocultar
os homens lá dentro
mulheres que se mostram
envoltas no vento

Vejam meus senhores
é uma cidade
com seus monumentos
histórias de braçado

[...] 

Lá em baixo o Tejo
que é nome do rio
a lamber as armas
com suas colunas 

Com seus prédios velhos
um rio lá em baixo
a lamber as pedras
as pernas-guindastes

De onde o seus bateis
partiam diurnos
vejam meus senhores
é uma cidade
de mãos empurradas
no fundo sem idade
com suas crianças
homens dos olhos

De bruços o céu
com seus girassóis
Lisboa é cidade
com heróis de luto 

Maria Teresa Horta

 

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


quarta-feira, 29 de março de 2023

"A Luz de Lisboa"


«Lisboa é uma cidade meridional da Europa, com muitas horas de sol descoberto, o que não acontece em muitas outras, aspecto que se encontra evidenciado na exposição. Por outro lado, encontra-se sobre o rio, que está a sul e corre de Nascente para Poente, funcionando como um enorme espelho de água que reflecte incrivelmente a luz.»

[Ana Eiró, in "A Luz de Lisboa"]


(Fotografia de Luís Eme - Tejo)


terça-feira, 21 de março de 2023

A "Visita Guiada" do Romeu...

 

Visita Guiada
  
a visita começou em Cacilhas
a bonita terra dos “orelhudos”
e de tantas outras maravilhas
que não davam espaço a sisudos
 
com a tua arte de contador de histórias
falaste do Arrobas, do Elias Garcia
e de tanta gente de felizes memórias
utilizando alguns pós de fantasia
 
depois vieram os lugares mágicos
que não trouxeram apenas encanto

focaste os acontecimentos trágicos
salvos por um ou outro “santo”
 
quando abriste a porta dos restaurantes
sentimos o aroma das belas caldeiradas
convocaste mais personagens apaixonantes
que na tua voz se tornaram encantadas
 
depois caminhámos em direcção ao “Rio-Mar”
era ali que começava e acabava o Ginjal
com tantas aventuras para contar
e quase sem darmos por isso, estávamos no Ponto Final


(Luís [Alves] Milheiro)


(Fotografia de Luís Eme - Ginjal)


terça-feira, 28 de fevereiro de 2023

"A Avenida da Margem Sul e os Transportes do Tejo" (três)


Vamos transcrever mais uma eloquente passagem da conferência de Agro Ferreira, que se realizou em Almada no já longínquo ano de 1933...

[...] «O Tejo contém em si toda a história da nacionalidade, desde a tomada de Lisboa aos mouros, até às descobertas; desde a nossa epopeia de conquistas pelo mundo além, até ao momento colonizador e até ao momento internacional presente.

O Tejo tem sido e será sempre a lombada do livro onde Camões escreveu o título da sua obra. Lombada, dum livro, digamos, cujas páginas se tem aberto só para um dos lados; lombado dum livro que os lisboetas não tem querido ler, reler, decorar, estimar e admirar largamente como merece, abrindo as suas folhas para um e outro lado, para uma e outra margem do rio.

Fugir do Tejo é fugir à contemplação, ao reviver de toda a história de Portugal, é fugir ao seu passado e ao seu presente; é tentar o retardamento do seu futuro.» [...]

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


segunda-feira, 27 de fevereiro de 2023

"A Avenida da Margem Sul e os Transportes no Tejo" (dois)


Continuamos com a conferência de Agro Ferreira, de 1933...

[...] «Vemos frequentemente discutidos o porto de Lisboa, os cais, a margem citadina pejada de depósitos de toda a natureza, oferecendo por vezes o espectáculo de estendal de sucatas.

O Porto de Lisboa... Meio porto, afinal lhe chamo eu, pois só se tem contado com a margem norte do Tejo, esquecendo que existe a margem sul, e que, enquanto a entrada do Tejo oferecer estes espectáculo de abandono, o porto de Lisboa dará sempre a impressão de pequenez miserável, resultante do desaproveitamento do natural conjunto das suas margens.» [...]

Nota: Infelizmente tivemos de esperar pelo século XXI para que as margens do rio fossem aproveitadas e devolvidas aos lisboetas e visitantes...

(Fotografia de Luís Eme - Porto Brandão)


sábado, 25 de fevereiro de 2023

"A Avenida da Margem Sul e os Transportes no Tejo" (um)


Em 1933, um homem chamado Agro Ferreira, já via muito mais longe que as pessoas que estavam no poder, na relação das duas Margens do Tejo, quer de Almada, quer de Lisboa, com o "Mais Belo Rio do Mundo"...

Vamos transcrever as partes mais importantes da sua conferência "A Avenida da Margem Sul do Tejo e os Transportes do Tejo", proferida em Almada, em Março de 1933, graças ao Boletim "Almada na História" (19-20), por aqui:

«Antes de enfrentar o mar e para chegar naturalmente até ele, Lisboa deveria ter acompanhado o Tejo.

Tudo indicava que assim deveria ter sido; tudo indica que assim deverá, ainda, ser para o futuro.

O Tejo das descobertas, o Tejo porto de mar, o Tejo cais da Europa, o Tejo porto de pesca, o soberbo Tejo panorâmico, rodeado do lado Norte de suaves encostas, até Cascais, indicava na verdade, historicamente, artisticamente, e até higienicamente, a orientação da urbanização citadina.

E assim se teria atingido o mar com as novas avenidas, que lançadas para o interior, ficariam confinadas, sem as prespectivas, que pelas meias encostas, no sentido longitudinal, lhes eram oferecidas, pelo estuário soberbo, ou, já mais adiante, pela baía majestosa, pelo mar, em fim.» [...]

(Fotografia der Luís Eme - Olho de Boi)


terça-feira, 31 de janeiro de 2023

"Seu Apelido - Lisboa"


Seu apelido – Lisboa
 
 
É varina, usa chinela,
tem movimentos de gata.
Na canastra, a caravela;
no coração, a fragata
 
Em vez de corvos, no xaile
gaivotas vêm pousar.
Quando o vento a leva ao baile
Baila no baile co’ o mar.
 
É de conchas o vestido;
tem algas na cabeleira;
e nas veias o latido
do motor de uma traineira.
E nas veias o latido
Do motor duma traineira
E nas veias o latido
Do motor duma traineira
 
Vende sonho e maresia,
tempestades apregoa.
Seu nome próprio, Maria.
Seu apelido, Lisboa
Seu nome próprio - Maria
 
 
David Mourão-Ferreira


(Fotografia Luís Eme - Lisboa)


quarta-feira, 18 de janeiro de 2023

"Almada Terra Coragem"



 Almada Terra Coragem
 
Vive em frente de Lisboa
Sobre o Tejo Debruçada
Terra de gente de proa
Linda Cidade de Almada
 
Há quem lhe chame Outra Banda
Por morar do lado esquerdo
Ser sentinela e varanda
De um povo que não tem medo
 
Foi terra valente
Por nós sempre amada
Foi grito, semente 
De gente acordada
 
Almada fabril
De ganga vestida
Almada de Abril
Nunca foi vencida
 
No tempo da tirania
A velha Vila de Almada
Lutou p'la democracia
Foi bandeira e foi vanguarda
 
Por isso a ti, ó Cidade
Quero prestar-te homenagem
Raiz, Força, Liberdade
Almada, Terra Coragem

 
[Poema de Orlando Laranjeiro, do livro que tem como título este poema, "Almada Terra Coragem"]


(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)