quarta-feira, 26 de maio de 2021

"Sonhos Cor de Água"


Ainda com o Tejo, com o "Casario" e com as minhas palavras...

«[...] Enquanto esperava, calmamente, pelo cacilheiro, ficou com a sensação que aquele largo que, fora nos anos oitenta o maior centro de circulação de pessoas e transportes da Europa, estava cada vez mais calmo. Tudo graças ao comboio da ponte...
Uns metros mais à frente descobriu uma cara conhecida, Pedro Sempre, outro herói das suas crónicas mundanas.
Pedro era um velho contador de histórias que passava parte dos seus dias fundeado num banco de madeira, assistindo ao cair da tarde rente ao seu Tejo.
Quem quisesse ouvir qualquer aventura do mundo só precisava de se sentar e escutar com atenção, a sua voz pausada, o melhor bilhete para uma mão cheia de viagens, extraordinárias, pelo Ocidente e Oriente, que se tentavam aproximar das de Fernão Mendes Pinto.
À medida que falava, o velho fazia festas ao Banzé, o seu companheiro de sempre, um cão escanzelado que lhe aquecia os pés e a alma, escondendo com o seu pelo deslavado, os buracos dos sapatos gastos, com ar de quem já dera mais que uma volta ao mundo [...]»

[Parte do conto "Sonhos Cor de Água", in "Um Café com Sabor Diferente", de Luís Alves Milheiro]


(Fotografia de Luís Eme - Cacilhas)


sábado, 22 de maio de 2021

"Desta Janela"


Ainda com o Tejo dentro do "Casario do Ginjal", mais uma espécie de poema:


Desta Janela
 
Desta Janela
Com Vista Para o Ginjal
Posso ver
a beleza do Tejo
o verde das encostas
e claro
o Casario do Ginjal...
 
Luís (Alves) Milheiro


Fotografia de Luís Eme - Almada)


quinta-feira, 13 de maio de 2021

"Dava Grandes Passeios com o Avô..."


Continuando com as primeiras publicações no "Casario do Ginjal", uma transcrição do meu primeiro e único romance, publicado em 1995, com o Tejo e o Ginjal:

« [...] Quis recordar-se da sua primeira visita ao Oceano Atlântico, não conseguiu qualquer imagem. Devia ser demasiado pequeno. Ter vivido sempre paredes-meias com o Tejo não ajudou muito, o rio foi o seu primeiro mar. Dava grandes passeios com o avô pela estrada marginal do Ginjal. O velho Vasco Gama falava-lhe do tempo dos golfinhos e dos homens que nadavam até Lisboa. Os seus olhos brilhavam quase encantados, seguindo o voo das gaivotas e escutando aquelas palavras mágicas, acompanhadas pelo marulho leve das águas que lavavam as paredes da pedra do cais e eram mais que música de fundo [...].»

[In "Bilhete para a Violência", de Luís Alves Milheiro]


(Fotografia de Luís Eme - Ginjal)


domingo, 9 de maio de 2021

"Além das Pedras, Temos o Rio" (um começo...)


No final de Maio de 2006 criei o meu primeiro blogue, que ainda continua a resistir ao tempo - o "Casario do Ginjal".

Como escrevi no seu subtítulo: "nasceu como um espaço de opinião, informação e divulgação de tudo aquilo que vivia ou sobrevivia nas proximidades do Ginjal e do Tejo, mas foi alargando os horizontes...

O mais curioso foi eu perceber que ele estava mesmo "cheio de Tejo", nos primeiros textos que publiquei (fui ler e gostei...). É por isso que durante este Maio de 2021, quinze anos depois deste começo, vou republicar essas prosas poéticas e poesias prosaicas. 

Começo com as primeiras palavras:


Além das Pedras, Temos o Rio…
 
 
Além das pedras e do entulho amontuado,
(nesta margem esquerda)
sinais vulgares de abandono,
temos o Rio,
esse mesmo, (único)
o Tejo...
 
é ele que dá vida a este meu casario,
do Ginjal...
 
[Luís (Alves) Milheiro]


(Fotografia de Luís Eme - Ginjal-Tejo)