terça-feira, 31 de maio de 2022

Quando se sente demais...


Volto a Bernardo Soares e ao "Livro do Desassossego" neste final e Maio...

[...] Muita vez me tem sucedido querer atravessar o rio, estes dez minutos do Terreiro do Paço a Cacilhas. E quase sempre tive como que a timidez de tanta gente, de mim mesmo e do meu propósito. Uma ou outra vez tenho ido, sempre opresso, sempre pondo somente o pé em terra de quando estou de volta.

Quando se sente de mais, o Tejo é Atlântico sem número, e Cacilhas outro continente, ou até outro universo.  [...]


(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


sábado, 28 de maio de 2022

A "Cidade Branca" de Adília Lopes


Adília Lopes é uma poeta de Lisboa que nos oferece alguma dose de loucura e de beleza nas suas palavras, diferentes, com uma marca muito pessoal, como nesta sua Cidade Branca.


Cidade branca 
 
Cidade branca
semeada
de pedras

Cidade azul
semeada
de céu
 
Cidade negra
como um beco
 
Cidade desabitada
como um armazém
 
Cidade lilás
Semeada
de jacarandás
Cidade dourada

semeada
de igrejas
 
Cidade prateada
semeada
de Tejo
 
Cidade que se degrada
cidade que acaba
 
Adília Lopes


(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)