terça-feira, 30 de abril de 2019

Ver (à noite) o Rio e os Barcos...


[…] 
«A coisa mais natural do mundo é chegar-se um homem à beira do cais, mesmo sendo noite, para ver o rio e os barcos, este Tejo que não corre pela minha aldeia, o Tejo que corre pela minha aldeia chama-se Douro, por isso, por não ter o mesmo nome, é que o Tejo não é mais belo que o rio que corre pela minha aldeia.» 
[…]

[José Saramago, in “O Ano da Morte de Ricardo Reis”] 


(Fotografia de Luís Eme - Tejo)

quarta-feira, 24 de abril de 2019

Um Homem na Cidade (mais uma vez)...



[...]
À flor dum azulejo a cor do Tejo
e um barco antigo ainda por largar
distância que já não vejo
e enche Lisboa de infância
e enche Lisboa de mar.



[José Carlos Ary dos Santos, "Fado dos Azulejos" do disco "Um Homem na Cidade"]



(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


quinta-feira, 18 de abril de 2019

«Basta uma janela para me fazer feliz...»


«Uma vez subi a um quarto andar onde mora um tipógrafo; ia com ganas de lhe comer os fígados, porque me andava a enganar desde que o livro entrara na oficina. Pois recebeu-me, lá no alto, um sol magnífico a cair sobre Lisboa: isto tudo visto por uma pequena janela. Adeus, fúrias, adeus palavras como punhais! Basta uma janela para me fazer feliz e foi o que me aconteceu, quando cheguei à sala 19. Era o Castelo, era o Tejo, era a Cidade de mármore e granito (como dizem) a espreitar para dentro da aula.»


[Sebastião da Gama, in “Diário”]


(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)

sábado, 13 de abril de 2019

O (meu) Sonho Adiado...



O Sonho Adiado

O poeta continua a viagem
Pelo cais dos sonhos...

Mesmo sem a luz do Farol,
Sem a frescura da água
Das bicas do Xafariz,
Não desiste de sonhar...

Percorre o Ginjal
De mão dada com a serenidade
Deixa-se empurrar pelo vento
Naquele carreiro da liberdade

Apesar das paredes cinzentas
Marcadas pelo abandono
Acredita num futuro azul
Inspirado na beleza do Tejo
E no encanto das suas margens

O poeta continua a viagem
Pelo cais dos sonhos...

E promete, nunca desistir de sonhar...

[Luís Alves Milheiro, in "Palavras ao Tejo"]


(Fotografia de Luís Eme - Ginjal)

domingo, 7 de abril de 2019

O Tejo, Romeu, Almada e Lisboa...


Romeu Correia, o grande escritor de Almada, também se inspirou no Tejo (que está presente em muitos dos seus livros). 

Ele que viveu parte da infância e adolescência no Cais de Ginjal, quase dentro do "Melhor Rio do Mundo"...

«A vila fica num alto e lá em baixo há o rio. Todo o estuário do Tejo pode ser observado lá de riba, e ainda o anfiteatro de Lisboa que, num rodar de cabeça, abrange do Bugio ao Poço do Bispo. Chama-se Almada, a vila. Terra que pertenceu à moirama, e agora é povoada por gente de trabalho que cedo se habituou a sociabilidade, fundando filarmónicas, centros recreativos e culturais, montepios, cooperativas de consumo e grupos desportivos.»
[...]

[Romeu Correia, in "Sábado sem Sol"]


(Fotografia de Luís Eme - Almada)

sexta-feira, 5 de abril de 2019

Digo: "Lisboa"...


Lisboa


Digo
"Lisboa"
Quando atravesso - vinda do sul - o rio
e a cidade a que chego abre-se
como se do seu nome nascesse

Abre-se e ergue-se em sua extensão
nocturna
em seu longo luzir de azul e rio
em seu corpo amontoado de colinas
[...]

[Sophia de Mello Breyner Andresen, in "Navegações"]


(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)