quarta-feira, 26 de maio de 2021

"Sonhos Cor de Água"


Ainda com o Tejo, com o "Casario" e com as minhas palavras...

«[...] Enquanto esperava, calmamente, pelo cacilheiro, ficou com a sensação que aquele largo que, fora nos anos oitenta o maior centro de circulação de pessoas e transportes da Europa, estava cada vez mais calmo. Tudo graças ao comboio da ponte...
Uns metros mais à frente descobriu uma cara conhecida, Pedro Sempre, outro herói das suas crónicas mundanas.
Pedro era um velho contador de histórias que passava parte dos seus dias fundeado num banco de madeira, assistindo ao cair da tarde rente ao seu Tejo.
Quem quisesse ouvir qualquer aventura do mundo só precisava de se sentar e escutar com atenção, a sua voz pausada, o melhor bilhete para uma mão cheia de viagens, extraordinárias, pelo Ocidente e Oriente, que se tentavam aproximar das de Fernão Mendes Pinto.
À medida que falava, o velho fazia festas ao Banzé, o seu companheiro de sempre, um cão escanzelado que lhe aquecia os pés e a alma, escondendo com o seu pelo deslavado, os buracos dos sapatos gastos, com ar de quem já dera mais que uma volta ao mundo [...]»

[Parte do conto "Sonhos Cor de Água", in "Um Café com Sabor Diferente", de Luís Alves Milheiro]


(Fotografia de Luís Eme - Cacilhas)


2 comentários:

  1. Uma foto muito bonita e um texto que me soube a pouco.
    Peço desculpa pela ausência, mas os olhos têm-me afastado do computador.
    Abraço e saúde

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