Este vento que, há muitas horas, clama,
Bem o sinto cá dentro: é por mim que ele chama...
Com amorosas vozes me persiade
A errar por esses mares da Ansiedade,
De fúnebre estridor,
Onde o meu sonho é sempre em flor e em dor!
Ele me quer a par das rotas velas,
Que demandam estrelas;
Ele me quer a arder em um delírio rubro,
por esses alcantis, a ver se inda descubro
Novos céus, novas gentes,
Arquipélagos de oiro incandescentes!
- Ó vento heróico e louco,
Da barra azul do Tejo,
Aberta ao meu desejo;
Vento da história, vento da Lenda,
Evoco,
Ao teu clamor, os uivos da tormenta;
A vaga a revolver-se amaramente odienta;
[...]
- Ó vento, leva-me contigo!
[Mário Beirão, in "Mar de Cristo"]
(Fotografia de Luís Eme - Tejo)