terça-feira, 30 de abril de 2024

"Peregrinação"



Peregrinação

Este vento que, há muitas horas, clama,
Bem o sinto cá dentro: é por mim que ele chama...
Com amorosas vozes me persiade
A errar por esses mares da Ansiedade,
De fúnebre estridor,
Onde o meu sonho é sempre em flor e em dor!

Ele me quer a par das rotas velas,
Que demandam estrelas;
Ele me quer a arder em um delírio rubro,
por esses alcantis, a ver se inda descubro
Novos céus, novas gentes,
Arquipélagos de oiro incandescentes!

- Ó vento heróico e louco,
Da barra azul do Tejo,
Aberta ao meu desejo;
Vento da história, vento da Lenda,
Evoco,
Ao teu clamor, os uivos da tormenta; 
A vaga a revolver-se amaramente odienta;
[...]
- Ó vento, leva-me contigo!

[Mário Beirão, in "Mar de Cristo"]


(Fotografia de Luís Eme - Tejo)

domingo, 28 de abril de 2024

"O Ribatejo"


«A parte inferior da bacia do Tejo forma um conjunto de terras baixas, a menos de 200 metros de altitude - a maior mancha plana do território português.

As margens dos rios constituem a Leziria inundada pelas cheias, em cujos nateiros se semeia trigo, se plantam legumes e se desenvolvem prados naturais aproveitados na criação, em larga escala, de touros e cavalos. As touradas portuguesas nasceram aqui e o campino, sempre a  cavalo, munido de longa vara com que sujeita os bois à manada. é um tipo humano inseparável desta paisagem rara,»

[Orlando Ribeiro, in "Terra Nossa"]

(Fotografia de Luís Eme - Vila Franca de Xira)