«[...] O cacilheiro no Tejo, é assim, diariamente, a estrada possível das outras viagens que nunca faremos. Nele começam e acabam as asas e as barbatanas de luz que séculos de adaptação à vida nos têm roubado.
É então que na manhã alada, o acordeão do cego nos devolve o eco da alegria possível.
Por entre pés, cestas, jornais, indiferença e alguns ouvidos atentos, vai o cego acordeando os fados da sua memória, deixando nas vigias algumas palavras de amor; quanto baste de saudade e as raivas, breves do nosso fado português,
Às vezes vou aqui, na amurada do cacilheiro; olho as gaivotas que pairam, voo rasteirinho, voo picado, voo maluco e penso, Liberdade é isto: ser gaivota branca.
Gaivota do Tejo. [...]»
[Maria Rosa Colaço, in Almada, uma gaivota no vento"]
(Fotografia de Luís Eme - Tejo)
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