domingo, 3 de fevereiro de 2019

"A Janella do quarto de trabalho..."


«A janella do quarto de trabalho deitava para o Tejo. No meio da verdura dos quintaes e das hortas resaíam as casas, que se aglomeravam pela encosta até á beira do rio. Os montes do outro lado.
Se a margem esquerda do Tejo fosse arborisada de pínheiraes, como é a do Douro, que aprasivel effeito não produziria no animo do viajante, que já vem maravilhado com a entrada da barra de Lisboa. 
A vista dilatava-se pelo espaçoso largo, descia pela encosta. ingreme, e espraiava-se pelas aguas transparentes do rio.
O gabinete de estudo era pequeno. No inverno aconchegado, agasalhado ou "confortável", como agora se diz. Na primavera e verão abria-se a grande janella, e arejava-o a brisa fresca do mar.
Uma janella que deita para o mar desafoga os pulmões e também a alma.»

                                                                             [Bulhão Pato, in "Sob os Ciprestes"]


(Fotografia de Luís Eme - Monte de Caparica)

Sem comentários:

Enviar um comentário