segunda-feira, 10 de julho de 2023

"Rio Tejo" (felizmente voltou a ser nosso...)


«Mesmo que o Mercado da Primavera não tivesse outro interesse, tinha, sem dúvida, um e importante, o de nos proporcionar durante o tempo da visita, uma nesga do rio Tejo, e de podermos comer ou tomar um café, ali, com o rio por assim dizer aos nossos pés.

Este Tejo é, de facto, um rio abandonado pelos deuses dos rios. Está quase todo tapado, vedado, escondido, armazenado, por assim dizer, lá para o fundo da cidade. Fábricas, estaleiros, sei lá, tudo serve para que o não veja o lisboeta nem mesmo o turista - é bom não esquecer o turista, o sol e o céu azul não bastam para o atrair, é bom ajudar um pouco. E o Tejo... para o observarmos de perto temos de ir por aí fora para as bandas de Vila Franca, ou então desembocar da auto-estrada em Caxias, onde ele ainda não é mar mas também já não é rio.»

[parte inicial de uma das memoráveis crónicas de Maria Judite de Carvalho, imortalizadas no livro, "Este Tempo", datada de Junho de 1971]

Nota: Felizmente já neste novo século conseguimos resgatar o Tejo, voltámos a ter as suas margens libertas, para todos nós o pudermos usufruir...


(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


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