domingo, 21 de novembro de 2021

"Voltar à Infância"


«Quando apanhou o cacilheiro no Cais Sodré e se viu no meio do rio, recordou-se da meninice passada rente ao Tejo, nas brincadeiras diárias que fazia ao longo do Ginjal com os amigos, por entre os operários das várias indústrias que davam vida aquele lugar tão aprazível.

Vieram-lhe à memória dois ou três rostos de amigos mais chegados. O que seria deles, vinte e muitos anos depois? Talvez não os reconhecesse às primeiras, sabia o quanto a vida gostava de nos mudar por dentro e por fora...

Deixou as pessoas irem saindo, enquanto olhava pela janela do cacilheiro o que podia ver de Cacilhas e do Ginjal. Depois desceu as escadas e saiu calmamente para terra. Primeiro espreitou o Ginjal. Estranhou ser recebido por placas informativas colocadas pelo Município, que eram no mínimo alarmantes, pois identificavam várias casas e armazéns em perigo de ruir. Ficou com uma vontade enorme de seguir por aquele caminho quase proibido, mas ao olhar o relógio, achou que era melhor ideia este passeio ficar para depois do almoço.

Percorreu com alguma emoção o Largo de Cacilhas e depois entrou na Rua Cândido dos Reis. Olhou para os vários restaurantes, ainda sem se decidir onde iria comer uma caldeirada de peixe. Tinha prometido a si mesmo só parar rente ao número 27.» 

(começo de um texto inédito escrito no final do século XX)

[Luís (Alves) Milheiro]

(Fotografia de Luís Eme - Cacilhas)


2 comentários:

  1. Saudades dessa zona por onde passeei com amigos nos saudoso anos sessenta e que por contingências da vida perdi anos mais tarde, mas que ainda hoje recordo com carinho.
    Abraço, saúde e boa semana

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    1. O Largo de Cacilhas está em obras e prometem que fica diferente, Elvira.

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