Os espelhos partidos vidros restos
as fogueiras os séculos os degredos
saía-se do medo em largos gestos
o mês rompia pelos dedos.
[...]
As sílabas sublevadas o azul o som
partiam-se as vogais no tom inverso.
Era o mês em que Charles Fourier e André Breton
passaram por Lisboa a cavalo num verso.
A subterrânea floração e seu mistério
era o mês com seu rio pela rua
na minha língua abril é um falanstério
na outra face da lua,
[...]
Colhemos então as barcas sobre o Tejo
navegação por dentro - metáforas à solta em cada
rua: Lisboa entre a memória e o desejo
era o mês da pétala lusa.
[...]
Dai-me de novo as grandes subversões idiomáticas
as inesperadas e loucas opções de classe. Dai-me outra vez
as gramáticas perdidas das ilusões fantásticas
as páginas a abrir as manhãs mágicas o mês.
[Manuel Alegre, in "Livro do Português Errante"]
(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)
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