Lisboa que Amanhece
Cansados vão os corpos para casa
Dos ritmos imitados d'outra dança
A noite finge ser ainda uma criança de olhos na lua
Com a sua cegueira da razão e do desejo
A noite é cega e as sombras de Lisboa
São da cidade branca e escura face
Lisboa é mãe solteira
Amou como se fosse a mais indefesa
Princesa que as trevas algum dia coroaram
Não sei se dura sempre esse teu beijo
Ou apenas o que resta desta noite
O vento, enfim, parou
Já mal o vejo por sobre o Tejo
E já tudo pode ser tudo aquilo que parece
Na Lisboa que amanhece
O Tejo que reflecte o dia à solta
À noite é prisioneiro dos olhares
Ao Cais dos Miradoiros
Vão chegando dos bares os navegantes
Amantes das teias que o amor e o fumo tecem
[...]
Sérgio Godinho
(Fotografia de Luís Eme - Ginjal)
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