domingo, 30 de junho de 2024

"No Fundo do Tejo"


No Fundo do Tejo


Fecho os olhos e vejo
No fundo Tejo
Uma coisa que oscila ao sabor da corrente
Que vai e vem, que deambula rente
Às pedras e conchas macias e frias.
Dias e noites, noites e dias.

Uma coisa que as águas desfazem sem nojo,
Levando-a de rojo
No fundo do Tejo:
Uma coisa que eu vejo,
Uma coisa que eu sinto e não sei o que é,
- Tão longe de mim, tão fora de pé!
[...]

Uma coisa que anda de cá para lá,
De lá para cá,
No fundo do Tejo:
Sem rumo, sem dono, sem nome, sem graça.
- Inútil e triste, como a carcaça
De um caranguejo.

Uma coisa disforme, insensível, alheia.
- Mas que escreve, sem querer, o nome meu na areia!

[Carlos Queirós, in "Desaparecido"]

(Fotografia de Luís Eme - Tejo)


Sem comentários:

Enviar um comentário