quarta-feira, 2 de dezembro de 2020

"Olhar o Tejo a pensar num verso de Pessoa"...


A minha homenagem a Eduardo Lourenço, uma das grandes figuras da cultura portuguesa do nosso tempo. Talvez um dos melhores exemplos do que é um intelectual, essa figura em extinção na sociedade portuguesa.

Numa entrevista ele falou do Tejo, numa situação muito especial (pelo lugar e pelo tempo que se vivia...), que transcrevo com a devida vénia:


«A única vez em que estive na [Rua] António Maria Cardoso [sede da PIDE], no famoso terceiro andar, um andar de más recordações para muita gente, estava um dia maravilhoso. Eu olhava o Tejo e lembrava-me de um verso do Pessoa (já naquela altura). Vem um rapaz: “Ó Sr. Dr., está em França. Não me pode arranjar lá um emprego?”. Isto não se acredita. “Ó homem, você está aqui tão bem... Vão ao cinema e andam nos carros eléctricos de borla.” Um bocado cínico da minha parte... Mas aquilo não era uma brincadeira. Muita gente pagou caramente, eram militantes a sério.»


(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


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