terça-feira, 10 de setembro de 2019

Retrato do Povo de Lisboa



Retrato do Povo de Lisboa

[...]
É da voz do meu povo uma criança
semi-nua nas docas de Lisboa
que eu ganho a minha voz
caldo verde sem esperança
laranja de humildade
amarga lança
até que a voz me doa.

Mas nunca se dói só quem a cantar magoa
dói-me o Tejo vazio dói-me a miséria
apunhalada na garganta.
Dói-me o sangue vencido a nódoa negra
punhada no meu canto.

[Ary dos Santos, in "Fotos-grafias"]


(Fotografia de Luís Eme - Ginjal)

2 comentários: