José Cardoso Pires, abre o
seu "Lisboa Livro de Bordo - vozes, olhares, memorações", com um
excelente texto sobre Lisboa e o Tejo.
«Logo a abrir, apareces-me pousada sobre o Tejo como
uma cidade de navegar. Não me admiro: sempre que me sinto em alturas de
abranger o mundo, no pico dum miradouro ou sentado numa nuvem, vejo-te em
cidade-nave, barca com ruas e jardins por dentro e até a brisa que corre me
sabe a sal. Há ondas de mar aberto desenhadas nas tuas calçadas; há âncoras, há
sereias. O convés, em praça larga com uma rosa dos ventos bordada no empedrado,
tem a comandá-lo duas colunas saídas das águas que fazem guarda de honra à
partida para o oceano. Ladeiam a proa ou figuram como tal, é a ideia que dão;
um pouco atrás, está um rei-menino montado num cavalo verde a olhar, por entre
elas, para o outro lado da Terra e a seus pés vêem-se nomes de navegadores e
datas de descobrimentos anotados a basalto no terreiro batido pelo sol. Em
frente é o rio que corre para os meridianos do paraíso. O tal Tejo de que falam
os cronistas enlouquecidos, povoando-o de tritões a cavalo de golfinhos.»
(Fotografia de Luís Eme)
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