sexta-feira, 18 de julho de 2025

"Lisboa que Amanhece"


Lisboa que Amanhece 

Cansados vão os corpos para casa
Dos ritmos imitados d'outra dança
A noite finge ser ainda uma criança de olhos na lua
Com a sua cegueira da razão e do desejo
A noite é cega e as sombras de Lisboa
São da cidade branca e escura face
Lisboa é mãe solteira
Amou como se fosse a mais indefesa
Princesa que as trevas algum dia coroaram
Não sei se dura sempre esse teu beijo
Ou apenas o que resta desta noite
O vento, enfim, parou
Já mal o vejo por sobre o Tejo
E já tudo pode ser tudo aquilo que parece
Na Lisboa que amanhece
O Tejo que reflecte o dia à solta
À noite é prisioneiro dos olhares
Ao Cais dos Miradoiros
Vão chegando dos bares os navegantes
Amantes das teias que o amor e o fumo tecem
[...]

Sérgio Godinho

(Fotografia de Luís Eme - Ginjal)


domingo, 6 de julho de 2025

"Tardes em que Lisboa carrega uma névoa de melancolia..."


«Havia e há tardes em que Lisboa carrega uma névoa de melancolia que se nos entranha pelo corpo adentro, que confundimos com a também latente humidade vinda do Tejo mas que é diferente e que, por vezes, nos apanha mesmo num dia quente de verão. Trata-se de uma melancolia leve, que não chega ainda a ser doença mas pode durar vários dias, e que nos impede de pensar ou ver para além do nevoeiro, que não é um nevoeiro meteorológico mas é como se fosse, apesar de estar dentro de nós.»

[Daniel Blaufuks, in "Lisboa Cliché"]


(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)