Pastora, grácil, vieste,
sempre caminho do Sul...
E rosa brava, trouxeste,
nos cabelos, um agreste
céu azul...
Tu me encontraste, pastora,
velado, sem nenhum céu.
Mas agora um céu me doura
a vida que, muito embora,
se perdeu...
Era nas margens do Tejo...
(Nem noutras margens seria).
Sobre nós dois, o adejo
das gaivotas, num desejo
de alegria...
E não mudou o cenário
para pastor e pastora.
Mas o Fado, sempre vário,
muda a história do cenário,
de hora a hora...
[...]
E condenaram-me a tanto:
viver, viver... e sem ti!
Vivendo sem no entanto
me ausentar daquele encanto
que perdi...
O Tejo, verde e correcto,
como no tempo passado...
Eu, porém, mais inquieto,
e, por este mal secreto,
- tão mudado!
[David Mourão-Ferreira, in "A Secreta Viagem"]
(Fotografia de Luís Eme - Trafaria)
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